terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Reichstag



O Reichstag coroou um dia magnífico, o nosso primeiro dia inteiro em Berlim. Um dia que ficou na memória de forma especial. Para um amante de História, a ida ao Reichstag foi algo espetacular. Impossível não lembrar, por exemplo, de ler nas aulas sobre o incêndio de 1933, que colaborou com a ascensão nazista, à medida que os comunistas foram considerados culpados e tidos como ameaça à República. A sensação é única, de estar em um lugar onde algo importante na história da humanidade aconteceu. E fora isso, a própria beleza e grandiosidade do lugar.



Em frente ao prédio do parlamento alemão, um gramado enorme, onde os turistas e locais curtiam o fim de tarde e onde também pararíamos após a visita. A atmosfera toda era muito agradável. Nem a fila em frente, que nos tomou uma boa meia hora, incomoda. Lá dentro, com os deputados alemães trabalhando como se nada estivesse acontecendo, subimos até a cobertura do edifício, onde foi feita uma sensacional cúpula, de vidro e espelhos. Do “terraço”, uma bela vista de Berlim, cortada pelo Rio Spree. Demos sorte de pegarmos um dia ensolarado e quente. Valeu demais!




sábado, 30 de abril de 2011

O Memorial dos Judeus

A uma quadra apenas ao sul do Portão de Brandeburgo fica o Memorial dos Judeus Mortos na Europa, também chamado de Memorial do Holocausto, ele foi inaugurado em 2005. Fica a céu aberto mesmo. Trata-se, na verdade, de um grande quarteirão, do tamanho de uns dois campos de futebol, cheio de blocos de concreto (mais de 2.700, ao todo) de mais ou menos 1,0m por 2,40m cada, com alturas que variam de 20cm a quase 5 metros, formando, justamente por causa dessa variação de altura, uma espécie de onda, para quem olha de fora. É possível circular entre os blocos acinzentados e, como alguns são bem altos, o espaço funciona também como um labirinto. Deixando, por instantes, o simbolismo de lado, o que tudo aquilo significa, é quase irresistível passear sobre os blocos. Mas há fiscais que pedem insistentemente para que os turistas não subam neles. É meio desrespeitoso, já que os blocos simulam tumbas.

Projetado pelo arquiteto norte-americano Peter Eisenman, o memorial é tão impactante quanto simples. Grande sacada. E para ele também vale aquele papo de como os alemães têm lidado com seus traumas. Não deixa de ser um reconhecimento de culpa e uma forma de expurgá-la. Pelo menos, vejo assim. Não que eles sejam pretensiosos de achar que vão de alguma forma compensar os erros de alguns de seus antepassados. Mas mostram que não pensam como eles, que mudaram. Uma curiosidade que tem a ver com isso: os blocos do memorial foram revestidos com um produto químico antigrafite, a fim de impedir pichações de grupos neonazistas; e a empresa que fabricou tal produto é herdeira da indústria responsável pelo Zyklon B, o gás usado nas câmaras em que milhões de judeus foram exterminados. Não deixa de ser uma grande ironia e que gerou polêmica, claro. Mas, a seu modo, todos querem fazer diferente.


Do outro lado da rua fica o Tiergarten, onde muito antigamente a realeza prussiana caçava. Hoje, ele é uma grande área verde dentro da cosmopolita Berlim. O bairro onde fica leva seu nome e, como já dissemos, ficava na parte capitalista. O muro passava entre o Tiergarten e o Portão de Brandenburgo. A mata instigou nosso lado preguiçoso, relaxamos quase automaticamente. Eram umas 15 horas, acho. Paramos por ali para dar uma descansada, mas não chegamos de fato a entrar no parque. Ficamos nuns banquinhos na calçada da Ebertstrasse. F.Bauman pediu arrego e cinco minutos de folga para as pernas. Ou seja, ficaríamos uma boa meia hora por ali. Fiquei olhando as pessoas passando, reparando nas meias da galera.


 Alemão definitivamente gosta de meia preta, cinza..., escura de forma geral. O que no Brasil é sinônimo de velho gagá por lá significa bom gosto. Brega eram as nossas meias brancas. O conceito de belo é cultural, e não deixa de ser interessante pensar no assunto. Mas desembestei a falar sobre as meias mais de molecagem mesmo. O negócio me intrigava até, mas fiz meio de zoação. De vez em quando eu gosto, para curtir um pouco com a cara das pessoas, embora sem maldade, de passar a impressão de que me interesso de verdade por alguma coisa bem banal. Precisa ser alguma coisa bem banal para valer a pena ficar só voltando naquele assunto, como se fosse impossível esquecê-lo. F.Bauman, deitado todo torto num banquinho estilo aquele da Praça É Nossa, tentava dormir, enquanto eu tagarelava sobre a importantíssima diferença cultural das meias entre Brasil e Alemanha com Hélene. As meias pretas iam e vinham. As brancas, exclusividade dos turistas, rumavam para uma quadra ao norte do Portão de Brandenburgo, onde fica o histórico Reichstag, o parlamento alemão.


sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Portão de Brandenburgo




Na Unter den Linden ainda entramos em algumas lojinhas de souvenirs. Comprei um pequeno abridor de garrafas em formato de caneca de cerveja e com o desenho de um urso, o "mascote" da cidade. Eu e Hélene também tiramos fotos com um ursão de mais de dois metros que estava em frente a uma das lojas. A simples caminhada pela avenida vale a pena. Entre as lojas e restaurantes, passamos pela embaixada russa e mais à frente, do outro lado da rua, pela embaixada húngara. Logo, chegamos à Pariserplatz, que estava em obras, atrapalhando a vista da atração principal: o Portão de Brandenburgo!

Belíssimo, imponente, tem 65 metros de largura, 26 de altura e seis colunas que formam cinco passagens, sendo a do centro um pouco mais larga e pela qual originalmente apenas a família real podia passar. Havia uma quantidade razoável de turistas por ali. Não à toa. Além da beleza, há seu aspecto histórico. O Portão de Brandenburgo foi construído no fim do século XVIII, a mando do rei prussiano Frederico II, a fim de substituir e dar mais esplendor a antigas portas da cidade, que haviam sido erguidas mais de um século antes.

No alto do Portão há a chamada quadriga, uma biga puxada por quatro cavalos e que leva a deusa grega Irene. Essa quadriga tem uma história à parte. Foi posta lá em 1793, dois anos após o restante da estrutura ser inaugurada. Mas com a invasão napoleônica, ela foi retirada e enviada a Paris. Apenas em 1814, com a reorganização do mapa europeu, ela voltou a Berlim.


Outro detalhe curioso. Ao contrário do que vemos hoje, a deusa e seus cavalos ficavam de costas para a Pariserplatz e de frente para o Tiergarten, parque que era o jardim real e que fica separado por uma avenida apenas do Portão. Acontece que durante a Segunda Guerra o monumento foi modificado. Os soviéticos se encarregaram de restaurar a estrutura e os capitalistas, a quadriga. Mas em 1958, dizem que unilateralmente, os soviéticos se apossaram da quadriga e reinstalaram-na de forma invertida, olhando para o lado oriental e de costas para o ocidental (capitalista).

Até então o Portão de Brandenburgo ainda servia de passagem entre os dois lados na Berlim dividida do pós-guerra. Mas três anos depois, foi erguido o Muro de Berlim pelos soviéticos, vedando a poucos pontos, os checkpoints, e sob rígida fiscalização, a chance de transitar entre esses "dois mundos" existentes dentro da mesma cidade. O Portão, que ficava no limite entre as zonas capitalistas e socialistas passou a ficar no lado oriental (soviético). Isso porque o Muro de Berlim foi erguido na rua que fica logo atrás (do ponto de vista atual) do Portão. Ele passava nessa rua que aparece na foto acima, a Ebertstrasse. Pegaria mesmo meio mal para a ideologia socialista a deusa Irene olhando por cima do muro o lado capitalista. Mas antes mesmo do muro os soviéticos já haviam tratado de cortar-lhe qualquer vontade de mudar de lado.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Unter den Linden e as memórias do nazismo

Cruzando outra pontezinha sobre o canal do Spree deixamos a Ilha dos Museus. Estávamos na Unter den Linden, a principal avenida de Berlim, no sentido leste-oeste, com várias edificações históricas, lojas e restaurantes. A Unter den Linden, que fica no distrito de Mitte, ficou sob domínio soviético no tempo da Alemanha dividida. Sua primeira atração, logo à nossa direita (lado norte), era o Museu Histórico Alemão. Ele fica num prédio chamado Zeughaus, a mais antiga construção da Unter den Linden ainda de pé, datada da virada do século XVII para o XVIII. Funcionou durante muito tempo como abrigo para o arsenal do exército prussiano e só virou museu no pós-Segunda Guerra Mundial.


Ao lado dele, a Neue Wache (Nova Casa da Guarda), um edifício com colunas dóricas na fachada feito no começo do século XIX e que funcionava como guarita para as tropas. Em 1931, virou uma espécie de memorial aos alemães mortos em batalhas. Nos anos 1960, a releitura comunista relembrou principalmente as vítimas do nazismo no local. Já na década de 1990, após a reunificação do país, o espaço foi redecorado, com destaque para a escultura de uma mãe com um filho morto no colo. Uma pequena abertura circular no teto deixa a escultura exposta à chuva, neve, etc., sempre com o intuito de relembrar o sofrimento do povo alemão durante as guerras, hoje, no caso, com ênfase na Segunda Guerra Mundial.


Essa relação do alemão com suas mazelas do passado obviamente não deve estar 100% resolvida. Mas tenho a impressão que a forma como eles lidam com isso é bem saudável. Em vez de escondê-las, negá-las, eles as expõem. De certa forma, serve para que não se esqueçam, não repitam os mesmos erros. Não se trata de romatizar e tenta lucrar com algo vergonhoso. Simplesmente o nazismo, para citar o que deve gerar maior sentimento de culpa, fez parte da história desse povo. Não dá para varrer para baixo do tapete. Não me parece algo oportunista turisticamente.

Outro exemplo estava logo do outro lado da rua, na Bebelplatz (Bebel foi um dos fundadores do Partido Social-Democrata Alemão, no século XIX; não é o conceito de social-democrata tucano que temos, mas de viés marxista, na época). A praça é circundada pela Ópera Estatal, a Catedral de São Hedwig e a Universidade Humboldt. Não sabia quando visitei a praça, só descobri depois, mas ali, em 10 de maio de 1933, os nazistas das SA, SS e Juventude Hitlerista promoveram a queima de cerca de 20 mil de livros, instigados pelo ministro de propaganda Goebbels. Obras que iam do escritor Thomas Mann ao filósofo Karl Marx. Anualmente, em 10 de maio, os alunos da Humboldt também distribuem livros na praça. Por lá também há uma frase de Heinrich Heine: "Onde se queimam livros, acabam por queimar pessoas".


Também não sabia na época, mas no centro da praça, bem no chão mesmo, há um vidro sob o qual se pode ver um pequeno vão em cujas paredes foram postas estantes vazias. A Copa do Mundo da África do Sul havia acabado há 11 dias quando estivemos lá. E ao lado da Universidade Humboldt havia um enorme outdoor agradecendo aos jogadores pelo terceiro lugar conquistado (se é no Brasil...). Não sei se de propósito, mas na imagem os jogadores formavam um círculo, olhando para baixo, exatamente como costumam ficar os turistas que observam as estantes vazias no subsolo da Bebelplatz. Pensado ou não, reforçava a ideia de comunhão do povo em torno de seus traumas.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Berlim - Alexanderplatz, Torre de TV, Prefeitura Vermelha, Igreja de Santa Maria, Rio Spree, Ilha dos Museus e Catedral de Berlim

A fama dos galos não seria a mesma se dependesse do Tegel. Lá, o bicho com asas que te acorda é outro, bem mais barulhento. No meu caso, foi às 5h e pouco da manhã, quando passou o primeiro avião. Rolar na cama esperando os outros acordarem não ajuda muito. O melhor mesmo é levantar e ir se arrumar para aproveitar o dia. E ele começou com uma pequena passada pelo supermercado. Compramos um pão meio preto, com umas mortadelas diferentes das mais comuns do Brasil, com mais temperos, tipo páprica, essas coisas. Compramos também uns achocolatados, voltamos ao hotel e só saímos de fato após esse café da manhã. Vale a pena, sobretudo para o bolso, esse esquema. Supermercado perto é o que há para turistas sem muita grana (nosso caso!). Só não precisa de água. Essa dava para beber da torneira do banheiro, que é potável, embora com um saborzinho. É o tipo da coisa que enche F. Bauman de orgulho. Ele, na verdade, já é mais alemão que brasileiro. Se falarmos isso com ele, acho que ele assina embaixo...

Mas havia outras lições a serem aprendidas logo de cara. O metrô é uma delas. A poucos metros do Dorint e bem ao lado dos turcos do sanduba fica a estação de metrô, com o tradicional "U" azul que indica as estações, de Kurt Schumacher Platz. F. Bauman nos explicou como comprar os tíquetes e que compensava comprar os para mais de uma pessoa e que também valia para qualquer tipo de transporte (metrô, trem de superfície, bonde, ônibus) durante o dia todo. Em outras cidades, compraríamos até por prazo maior, tipo 72 horas. É algo bem prático e não fica caro. Coisa de R$ 11 reais/dia/pessoa. Pouco para quem se desloca muito entre os pontos turísticos. Se a fiscalização aparecer, basta mostrar. Muitos se arriscam a andar de metrô sem pagar. Mas se você for pego, a multa é salgada. E não há como escapar. Não me lembro o valor exato, mas acho que dava para andar uns bons 20 dias pela cidade toda.


 As placas eletrônicas indicam quantos minutos faltam para o próximo metrô chegar. Nunca eram mostrados mais que cinco minutos. E nunca atrasava. Nun-ca! Chega a ser humilhante para quem precisa esperar 20, 30, 40 minutos pelo seu ônibus em Vitória sem fazer ideia de quando ele vem. Em 15, 20 minutos, saltamos na tradicional Alexanderplatz. Ali, mesmo que não quiséssemos reparar, surgia imponente, a Torre de TV (Fernsehturm). Ela foi feita pelo antigo governo socialista na parte oriental de Berlim na segunda metade da década de 1960. Tem 368 metros de altura. A ideia era justamente ser vista e causar um certo impacto no lado ocidental/capitalista na Berlim da Guerra Fria. Há um restaurante lá em cima, mas não fomos. Para quem costuma se perder em cidades sem praia, a bela Torre é um ponto de referência e tanto.

Demos uma passada em uma lojinha de eletrodomésticos e afins que tinha bem ao lado da Alexanderplatz. Na loja, buscamos uma tomada/adaptador para nossos celulares, etc. As tomadas na Alemanha têm outro formato. Ainda na Alexanderplatz, vimos uns painéis com fotos históricas, especialmente da reunificação do país, panéis em formato do muro, diga-se, numa sacada bem legal. Ali, também, vimos o relógio mundial, indicando que eram 7 horas no Brasil. Até que nossa adaptação ao fuso não foi tão problemática. Não estávamos tão quebrados. Mas para a alimentação, o fuso fazia algum efeito. Se eram 7 horas no Brasil, isso significava que era meio-dia em Berlim, e não tínhamos a menor vontade de almoçar. Meio-dia, para a gente, era apenas um indício de que precisávamos apertarmos o passo.




Não demorou para encontrarmos duas brasileiras, bem em frente à Prefeitura Vermelha (Rote Räthaus), que estava com a área em frente em obras. Belo prédio. Pertinho dali, a Fonte de Netuno, para alegria de crianças e pombos, e a pequena Igreja de Santa Maria (Marienkirche), que estima-se ter sido erguida no século XIII. Ela fica na Rua Karl Liebknecht, nome de um dos líderes, ao lado de Rosa Luxemburgo, do chamado Movimento Espartaquista (radical de esquerda) mortos em 1919 por oposição ao regime da República de Weimar. Pela Karl Liebknecht cruzamos o Rio Spree, com barcos com turistas.

O Spree não é muito largo. Ao menos não nesse trecho. Passando por uma pequena ponte, entramos quase sem perceber na chamada Ilha dos Museus (Museumsinsel). É uma pequena ilha mesmo, já que do seu outro lado passa um canal que parte do Spree voltando a juntar-se ao rio aproximadamente dois quilômetros depois. Na ilha, há cinco grandes museus, com acervos desde a antiguidade clássica à arte europeia do século XIX. Os prédios são todos bem imponentes, mas não entramos em nenhum. Também na ilha, está a Catedral de Berlim. O Spree passa bem atrás dela. Sua fachada também é bem bonita.

Há um chafariz em frente. O dia estava começando a esquentar. Até então, um tempinho meio nublado. Resolvemos sentar um pouco e dar uma descansada. Eis que para onde a gente olhava havia ciganos pedindo dinheiro. Pareciam romenos, mas era impressionante como mendigo europeu é poliglota, rs! Nos abordavam perguntando se falávamos inglês, se falávamos espanhol, se falávamos italiano... Eles mesmos falavam tudo. Deu vontade de pedir dinheiro a eles, que volta e meia apareciam, sozinhos ou em pequenos grupos, mas eu havia mentido sobre só falar português. Na verdade, falo um pouco de português e olhe lá, rs! Rechaçamos os pedintes, mas nossa quinta-feira, 22 de julho, em Berlim, ainda estava longe de terminar.







segunda-feira, 25 de abril de 2011

Berlim - Tegel, döner und bier!

O voo Madri-Berlim foi meio sacrificante. É no mínimo chato ter de voltar a uma cadeira de avião depois que você já passou 10 horas voando desde o Brasil. O espaço para as minhas pernas parecia encolher a cada minuto. Ainda assim, curti a decolagem. Como tudo nele, Barajas também tem pistas gigantescas. Cheguei a pensar que iríamos para a Alemanha sem tirar as rodas do asfalto. O avião ficou flanando por ali, entre retas e curvas, por uns bons cinco minutos até subir. Aí, começou um falatório danado misturando alemão e espanhol. Estávamos do meio para a frente do avião, imediatamente antes de três "aborrecentes" espanhóis. Cara, nunca vi alguém falar tanto.

Estava sol, com o céu bem limpo. Já próximo à chegada, com o avião numa altitude menor, comecei a apreciar a paisagem. Dava para ver o interior da Alemanha, algumas cidadezinhas isoladas, estradas, lagos e os chamados aerogeradores de energia eólica. O ânimo de chegar a outro país voltou. A estreia, em solo espanhol, foi apenas uma pequena amostra. Não deu para conhecer, de fato, Madri, embora tenha sido suficiente para nos dar o gostinho de estar em terras estrangeiras. Mas seria na Alemanha que nossa viagem iria mesmo começar.


Há planos de desativação do Aeroporto de Tegel, que fica no norte/noroeste da cidade de Berlim. É decente, mas nem chega aos pés do faraônico Barajas. Enquanto passávamos pela tradicional apreensão até avistarmos nossas bagagens, pude ver F. Bauman no saguão, vestido com uma camisa azul e com uma cabeleira de fazer inveja em quem, como eu, já teve a sua própria, mas hoje deve reconhecer que seus fios capilares estão irremediavelmente em extinção. Bauman não tinha esse cabelo no Brasil. Apresentei Hélene ao nosso anfitrião e dali partimos, entre perguntas e respostas de praxe e, obviamente, algumas piadas.

Eram quase 19 horas, mas, a sensação era de ser antes das 17h. O hotel, Dorint, não era longe. Pegamos um ônibus. No meio do papo, o telefone de Bauman tocou: "É o seu pai!". Isso é que é... Corujice!? Nem sei como classificar. Não deu nem tempo de a gente lembrar que a família existia e que deveríamos telefonar e ele já ligou. Mais que isso. Me informava que havia investigado, sabe Deus como, o endereço de Bauman em Hamburgo e "descoberto" que o apartamento estava em nome de um tal de John Eller.

 Bauman, estupefato e sem saber se arregalava os olhos ou franzia as sobrancelhas, fez menção de contestar a sanidade mental do meu velho: "Cara, sinceramente, não sei de onde ele tirou isso? Quem é John Eller?". Eu, na minha fanfarronice, deveria tê-lo zoado, mas achei melhor largar para lá: "Meu pai é doido." O busão, amarelo, estava meio vazio. Logo, logo saltamos. Que lugar agradável! A primeira impressão foi a melhor possível. Ruas limpas, tudo bem cuidado. E com um intérprete que nos poupava de ter que conversar com a recepcionista do hotel. Comodidade maior, impossível.

Bem, isso era o que pensávamos até F. Bauman traduzir para nós a informação de que nosso quarto não tinha ar condicionado. "Ah, tudo bem!" Estávamos de bom humor. Subimos, abrimos a janela. Vista para o estacionamento. "Hum, não parece mal". Isso, até vir o primeiro avião, que passou zunindo sobre nossas cabeças! Zzzzzzzzzzzzzzzzz... ZZZZUUUÕÕÕOOUUUMMMMM!!! Mmmmmmmm... Era, simplesmente, ensurdecedor! Estávamos na versão berlinesa do Bairro República (vizinho ao Aeroporto de Vitória-ES). A impressão é de que todos os aviões iriam cair dentro do quarto. E eles passavam, sem dar trégua, em intervalos curtos, de dois em dois minutos. "É, o ar condicionado fará falta...". Lá pelas 20h, os voos pararam. "Beleza!"

Saímos, era a hora de comer. O escolhido foi o sanduíche turco que tinha num quiosque de imigrantes turcos a uma quadra do hotel. Que saudade do tal "döner kebab", com a carne assada sendo cortada na hora, em tirinhas, direto daqueles pedações gigantes que ficam girando num espeto vertical. Uma delícia! Até o repolho roxo, que em circunstâncias normais eu recusaria, foi aprovado. Acho que o original turco é um pouco diferente. Foram feitas adaptações para agradar aos alemães, mas o fato é que é muito bom!


Estávamos na esquina da Müllerstrasse com a Kurt Schumacher Damm, em frente ao Hotel Bärlin, cujo nome, segundo Bauman, é um trocadilho com o nome da cidade e seu mascote, o urso. Pança cheia, hora da cana. Subimos um pouco a pé pela Müllerstrasse/Scharnweberstrasse, na direção contrária da que leva ao centro (que fica a uns bons sete quilômetros de onde estávamos). É um bairro tranquilo, residencial. Nada de balada por ali. Mas havia alguns barzinhos abertos. Paramos num, de duas loiras, sendo que a mais nova só vimos nesse dia. A loira que veria nossas caras todos os dias devia ter uns 45, 50 anos.

O "Bar da Loira" viraria parada obrigatória à noite, antes de voltarmos ao hotel. Dois dias depois, a própria "Loira" já estava íntima, sentando na nossa mesa e tudo. Novamente segundo Bauman, um comportamento incomum. Pelo menos em se tratando de alemães. Enfim, acho que ela queria dar uns pegas no Bauman, isso sim. A estreia em Berlim foi digna. Voltamos semi-trôpegos após alguns litros de três tipos distintos de cerveja, uma clara, outra escura e ainda uma terceira, meio turva. Não me perguntem os nomes delas. O importante é que conseguimos voltar ao hotel, felizes da vida. Quase 48 horas depois, vimos cama. Era a hora do descanso. O turismo começaria no dia seguinte. 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Oi, Madri! Tchau, Madri!

A passagem por Madri foi relâmpago. Mas a impressão foi das melhores, apesar da "secura" dos espanhóis. Quem vê uma foto de Hélene, de calça, blusa e... botas(!) não imagina o calor que estava na cidade. Penamos para sair da estação de Nuevos Ministerios, que deve ter umas oito saídas ou mais. Assim como o aeroporto de Barajas, que sozinho tem três estações de metrô, o metrô também é mosntruoso. Pelo menos, para os nossos critérios.


Fanático por futebol, decidi visitar o Estádio do Real Madrid, o Santiago Barnabeu, no pouco tempo que tínhamos antes da conexão para Berlim. Subimos a Paseo de la Castellana a pé e poucos minutos depois estávamos na Plaza de Lima, bem em frente ao estádio. Alguns turistas formavam uma pequena fila para a compra de ingressos para um tour nas dependências do Bernabeu. Deu muita vontade de visitar as "entranhas" do clube merengue, mas não havia tempo. Por fora, o estádio nem parece tão grande, na verdade. Mas valeu termos passado por lá. Um dia, voltamos para ver "un partido".

Nas cercanias, havia sobras do que parecia serem estruturas de um palco. Um show ou algo assim tinha rolado provavelmente na véspera. Por ali, nos Jardínes del Mundial de 1982, encontramos uma mãe e um casal de filhos romenos para os quais tiramos umas fotos. Ao saber que éramos brasileiros, eles abriram um sorriso. Sei lá, mas acho que essa galera do leste europeu é menos fresca que os ocidentais, e talvez por também serem meio "ralé" dentro da Europa, me pareceram mais simpáticos e menos preconceituosos com os latino-americanos sem dinheiro no bolso e sem parentes importantes.


Quem ficou na bronca conosco foram duas espanholas folgadas, que tentaram a todo custo nos arrancarem 20 euros (!) para uma instituição que ajuda(ria) cegos. Preferimos negar a ajuda que valia o olho da cara e não entrarmos, nós mesmos, na lista dos possíveis beneficiados. Continuamos rodando nas ruas próximas, e descemos pela Calle de Orense, onde caçamos uma lanchonete e comemos rapidamente.

Na volta para o aeroporto, por pouco não pegamos a linha errada no metrô. O trem parou, mas algo me disse para não entrarmos. Dito e feito. Perguntei a uma menina ao lado e ela nos indicou que o metrô que esperávamos era no outro andar. Ufa! Enfim, deu tudo certo. Até sobrou tempo em no Aeroporto de Barajas, pois o vôo também foi atrasado em uma hora. Para decolar, uns dez minutos taxiando. Aquilo é tão grande quanto um circuito de Fórmula 1. Mas tudo bem. Lá íamos nós a Berlim, com metade do avião falando espanhol e a outra metade, alemão.